ESQUINAS DO MUNDO
Alessandro Atanes
A bordo de uma escuna, os parti-cipantes deste passeio repetem pelo canal do Estuário o trajeto de poetas que chegaram ao porto de Santos como Pablo Neruda, Elizabeth Bishop, Blaise Cendrars e Oswald de Andrade.
Suas impressões e poemas são re-vividos durante o Rota Literária -um passeio poético pelo Por-to de Santos, em que a obra desses e outros poetas são mostradas por meio de interpretações e canções.
No palco navegante, atrizes e mú-sicos são os guias de um passeio que intercala paisagens e letras pelo canal do estuário. Não faltam ao passeio referências às obras de escritores de Santos como Roldão Mendes Rosa, Rui Ribeiro Couto e Narciso de Andrade, ou dos contemporâneos
Madô Martins, Lidia Maria de Melo, Flávio Viegas Amoreira, Ademir Demarchi e Alberto Martins.
A escolha da escuna se deve ao fato de ser uma das últimas formas para conhecer o porto livremente, ao contrário dos acessos por terra, cada vez mais controlados.
Desta forma, o Rota Literária contribui para a integração porto/cidade atra-vés da produção artística, tornan-do o porto de Santos mais familiar a moradores da cidade e a turistas.
Assim, colabora para promover a cidade como destino de turismo li-terário, a exemplo da cidade natal de Guimarães Rosa, Cordisbur-go, que promove diversos eventos em torno da obra do escritor.
Ficha técnica
O recital Rota Literária - Um passeio poético pelo Porto de Santos foi encenado em duas temporadas. Estreou em meio de 2010 como parte da programação do seminário Literatura: por quê? Desafios na Formação de Leitores, promovido pelo Sesc Santos.
Pesquisa, texto-base e composições: Alessandro Atanes
Atrizes: Marisa Matos e Cláudia Nascimento (Cia Periscópio de Arte)
Diretor convidado: Anderson de Oliveira
Dramaturgia: Marisa Matos, Cláudia Nascimento, Anderson de Oliveira
Trilha Sonora: Alessandro Atanes
Intérpretes da trilha sonora: Marisa Matos e Cláudia Nascimento e Alessandro Atanes
Coreografia: Marisa Matos e Cláudia Nascimento
Figurinos: Marisa Matos, Cláudia Nascimento, Anderson de Oliveira e Regina de Palermo
Produção: Márcia Costa (Instituto Artefato Cultural).
Em nova edição em 2011, além das saídas de escuna, o Rota Literária teve uma versão para os palcos que contou com a participação do pianista e compositor Tarso Ramos ao acordeão.
O elenco: Marisa Matos, Alessandro Atanes e Cláudia Nascimento
Em ação na escuna. Ao fundo a passagem de um navio
Alessandro Atanes e Tarso Ramos apresentam canções do Rota Literária no lançamento do Esquinas do Mundo
Santos e a poesia, por Madô Martins
Leia abaixo, texto sobre o Rota Literária da escritora e jornalista Madô Martins, publicado originalmente no site Artefato Cultural em agosto de 2001
Navegar é preciso. Mesmo que a gente esqueça que o mar está ali, no fim da rua, ele faz parte de quem vive no litoral: está no ar que se respira o tempo todo, carregado de maresia, na areia varrida no chão das casas, nas gaivotas que cortam o céu desde as primeiras horas da manhã, nos sonhos sonhados à noite ou mesmo, de olhos abertos. Está na brisa, na poesia e na música que se produz por aqui. Em manifestações como o espetáculo Rota Literária, de Alessandro Atanes, que mostra o porto e a cidade guardados no imaginário de vários poetas, locais e estrangeiros, de diversas épocas. Bom seria que esta rota fosse percorrida tanto nas escolas existentes no município, para que os alunos percebessem a importância do lugar onde vivem, quanto nos pontos turísticos, para que os visitantes soubessem que Santos não inspira apenas belas fotos.
A primeira encenação do texto aconteceu em 2010, dentro de uma embarcação que percorria o cais. Diante da visão de guindastes em atividade e navios ancorados, no balanço das marolas, podia-se conhecer versos de Pablo Neruda, Elizabeth Bishop, Narciso de Andrade, Rui Ribeiro Couto e outros, apresentados pelas atrizes Marisa Matos e Cláudia Nascimento, acompanhadas pelo próprio Alessandro ao violão elétrico. Este ano, no penúltimo domingo de julho, o Sesc mais uma vez deu seu aval ao espetáculo, agora mostrado no auditório, em versão ampliada, em que foram acrescentados poemas de autores atuais, como Ademir Demarchi, Alberto Martins, Flávio Viegas Amoreira e eu. No palco, outra novidade: a participação do compositor Tarso Ramos ao teclado, fazendo dupla com o violonista.
Com humor e leveza, as atrizes navegaram por um grande mosaico de versos em que a cidade serve como pano de fundo, resultado da pesquisa de Alessandro Atanes que ainda traz a público as impressões de poetas como Cendras e Oswald de Andrade, quando aqui estiveram. Um espetáculo imperdível, que fala da vida santista sob um olhar ao mesmo tempo lírico e lúcido, mas sem didatismo. Não deixe de conferir, nas próximas apresentações. A cidade e seus poetas agradecem.