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Os Beatles nas bocas de Santos


A Lucas Krempel, do Blog ' Roll, e aos amigos da época da Blue Bus Co.

A ficção apresenta o mundo não como ele é, mas como poderia ser, ainda que entranhado pelos acontecimentos. É algo a mais que se acrescenta à espessura das coisas. A partir dessa diferença, podemos fazer perguntas e reflexões sobre a sociedade.

 

Essa história começaria em 1961, no porto alemão de Hamburgo, quando jovens diretores de uma empresa de navegação de capital britânico com sede em Santos, em uma viagem de negócios pela Europa, chegam ao distrito de St. Pauli, com seus cabarés e casas noturnas, para uma noite de diversão. Não poderiam imaginar que suas vidas iriam se transformar durante uma apresentação no Top Ten.

Eram os Beatles. Ali, nas bocas de Hamburgo, os descendentes de ingleses nascidos em Santos encontram o já quarteto de Liverpool em todo seu potencial, já em sua segunda série de apresentações pela cidade alemã.

Os três diretores – quais seus nomes? Teriam antepassados em Liverpool? – apresentam-se ao grupo, elogiam sua performance e lhe oferecem rodadas de bebida. Após uma noitada por St. Pauli, o distrito da Luz Vermelha, restam promessas de amizades e novos encontros. No dia seguinte, durante o café da manhã, refeitos da empolgação do encontro, é que um deles tem a ideia de contratar o grupo para uma série de apresentações nos bares da boca de Santos, acostumados a receber uma série de apresentações internacionais.

– Como não pensamos nisso ontem?, lamenta um.

– Voltemos hoje à noite ao Top Ten, vamos convencê-los, sugere outro.

Herdeiros de uma riqueza proporcionada pelo escoamento do café colhido nas fazendas do interior de São Paulo desde as duas últimas décadas do século XIX, os três diretores trocam rápidos telegramas com a administração em Santos e conseguem chegar a uma quantia para ser proposta ao grupo.

À noite, um pouco antes da hora do show, eles chegam ao Top Ten. Ali são avisados que a noite anterior havia sido a última dos ingleses na cidade. Eles voltariam para Liverpool e já deviam estar embarcados naquela hora. Eles não desistem e partem para a cidade portuária inglesa. Em uma das apresentações no Cavern Club, os diretores da empresa de navegação santista de capital britânico divertem-se novamente com os músicos, retomam a conversa e finalmente fazem a proposta, mas a casa está lotada e eles só podem pensar em nova viagem depois de uns três ou quatro meses.

Só que nesse meio tempo, o dono de uma loja de discos, Brian Epstein, despertado por um fã que procurava um disco em que os Beatles faziam o acompanhamento para Tony Sheridan, decide ir ao bar e conhecer o som do quarteto. Dali, eles assinariam um contrato e logo Love Me Do estourava nas paradas. O resto é História.

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