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Falem de nós


Alteração em 7/12: na primeira versão publicada da tradução de De nosotros decid usei "dizer" para "decir". Decidi trocar por "falar" porque me parece trazer para o português a força direta do imperativo em espanhol, já que dizer em nosso português parece sempre dizer "algo" e não "de", o que fica mais contundente com a opção "falar".

Falem de nós (1991)

Vocês que virão mais tarde do que nós para nos saber bárbaros e antigos, historiadores do futuro, falem de nós que fomos habitantes de um mundo pré-humano, semidivino, semibestial, precário, fértil em acertos, fértil em erros

Que habitamos um país em que as fogueiras desenhavam nos morros noturnos o vermelho resplendor de foices e martelos

Que viemos de um tempo de tavernas e de raivosos mandamentos vociferados sob os blindados

Falem que nossos cães eram compridos e tristes e canibais

Que à meia-noite da Praça de Armas a Fome conversava com Pizarro

Que a Peste nos recebeu em seu leito e que nos forneceu asilo e fomos como irmãos

Que bebíamos com a Morte e com a guerra na mesma mesa e ríamos juntos

Que fazíamos poemas e cuspíamos de lado que éramos tuberculosos e que odiávamos uns aos outros

Que traímos e nos traíram que fizemos sinais com o dedo e que o céu em outubro era vermelho e roxo

Que levantávamos a voz para nos repreender que nos matamos e nos reproduzimos e que muitos morreram e não se deram conta

 

A autora lê De nosotros decid em Santiago durante evento na capital chilena em 2007

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