As invisíveis e intermináveis viagens de Óscar Limache
Viaje a la lengua del puercoespín, magnífico périplo versístico do destacado poeta, educador e tradutor Óscar Limache, mantém-se sempre vigente, fresco e renovado com o passar do tempo
Ler sob todas as luzes Viagem à língua do porco-espinho, do destacado poeta, docente e tradutor Óscar Limache, resulta definitivamente tão reconfortante como embarcar em uma longa e prazerosa peregrinação pelo conteúdo e continente de sua palavra, sempre fresca e renovada com o passar do tempo.
Enriquecedora crônica de viagem em versos, bitácula e cartografia de empedernido navegante, capitão e marinheiro de seu próprio barco, cosmopolita pelas ambiciosas e complexas rotas seguidas pelo itinerário de sua escritura, cidadão do mundo de forma cabal. E ainda viajante imaginário por cidades invisíveis, cobertas pela névoa.
Fulgurantes em suas aulas de história universal, sobressaem-se as legendárias cidades da cultura oriental e ocidental, da antiga e moderna, como Atenas, Ítaca e Roma; Pequim, Nova York, Veneza, Paris e outras de reminiscências mais exóticas e caprichosas geografias como Ulán Bator, Bombai, Katmandu e Bagdá.
Tudo para ir parar (ou acabar a viagem, em bom português) em sua casa, ponto inicial de partida de suas andanças pelo mundo, porque a casa é - como dizia Sebastián Salazar Bondy - o lugar onde se chega ao fim.
Estampa intransferível de si mesmo, o poeta, neste magnífico périplo versístico, olhos saltados de viajante cheios de mundo, espessa barba cinza de porco-espinho amável, pungente, espinhoso e florescido em sua tinta. Lima(che) feliz no reino da poesia.
SOBRE O AUTOR
Óscar Limache (Lima, 1958). Destacado poeta, docente e tradutor peruano. Prêmio Copé de Oro na IV Bienal de poesia, organizada por Petróleos del Perú, por Viaje a la lengua del puercoespín (1989), que no momento chega já a cinco edições. Publicou, além disso, o poemário Vuelo de identidad (2004), traduzido para o português e as antologias Un año con trece lunas, El cine visto por los poetas peruanos (1995), Selección nacional (1999), Desde la aurora (2003) e Piedra de doce ángulos. Muestra de la poesía cusqueña del siglo XXI (2014), entre outros livros. É diretor do selo editorial independente La Apacheta Editores e vice-presidente de Leamos, Associação Peruana para o Desenvolvimento da Leitura, foi também consultor do Ministério da Educação.
Matéria publicada em El Popular (Peru), em 1º de julho de 2017 (leia aqui).
Nota do tradutor:
Abaixo, em espanhol e português, três poemas de Limache que acompanham o texto de Jorge Ita Gómez.
AUTORRETRATO CON PÚAS (22 AÑOS)
Para Gigi
Soy como los cactus que cultivo alto seco espinoso frío e hiriente pero maldición no puedo evitar de vez en cuando darte desde mi centro una flor amarilla
AUTORRETRATO COM ESPINHOS (22 ANOS)
Para Gigi
Sou como os cactus que cultivo alto seco espinhoso frio e ferino mas maldição não posso evitar de vez em quando te dar desde meu cerne uma flor amarela
SANÁ
(Noche de velos en la arena)
Las doncellas y su tibia manera de doblar las tiendas y cerrar los ojos
SANÁ
(Noite de véus na areia)
As donzelas e sua tíbia maneira de dobras as tendas e fechar os olhos
ROMA
La multitud inicial en la plaza San Pedro los cánticos de alabanza en Lusaka las danzas ondulantes en Bahía los niños del arcoíris en Guatemala los tocados de plumas en Konedobu las pancartas de bienvenida en Managua las madres con los pañuelos en Buenos Aires los ojos llenos de lágrimas en Lima las manos suplicantes en Calcuta las cálidas sonrisas en Puerto España las piedras y los gases en Santiago las aclamaciones en el centro de Cracovia las grandes concentraciones en Fátima (con quién compartir las dudas cuando a solas por las noches vivo en la alcoba papal)
ROMA
A multidão inicial na praça São Pedro os cânticos de louvor em Lusaka as danças ondulantes na Bahia as crianças do arco-íris na Guatemala os tocados de plumas em Konedobu as faixas de boas vindas em Manágua as mães com os lenços em Buenos Aires os olhos cheios de lágrimas em Lima as mãos suplicantes em Calcutá os cálidos sorrisos em Porto Espanha as pedras e os gases em Santiago as acamações no centro de Cracóvia as grandes concentrações em Fátima (com quem dividir as dúvidas quando a sós pelas noites vivo na alcova papal)